Amor, ódio, paixão, amizade, fidelidade, traição, decepção, perdão... 
Sentimentos antagônicos se fundem e dão enredo à obra, que tem como pano de fundo o tráfico de drogas e a dependência química. Embora o uso de entorpecentes seja tão antigo quanto a humanidade, para os mais diversos fins, há muito tempo, tem patrocinado grandes mazelas e fomentado a violência em todos os níveis. Entre as vítimas, estão os jovens e as famílias. Os danos causados pelo vício vão além do usuário. Seus tentáculos são vigorosos e dizimam o dependente e quem está ao seu redor. Dissemina a degradação humana em raio imensurável. 
A densidade da obra está no estímulo à reflexão sobre a importância da família e escola na formação de crianças e jovens. A desatenção ao filho não é compensada por mimos ou presentes caros, que embaçam a visão e empurram a invisibilidade os sinais de desajustes de comportamento. Amar um filho é mais que saciar seus desejos. 
A devoção de Juliano ao amigo rafael o torna presa fácil de um ardil. O ingênuo Juliano vê sua vida virar de ponta cabeça. Preso, suspeito de tráfico de drogas numa cilada armada por Rafael e seu sócio traficante, ele amarga, no calabouço de uma delegacia de uma cidade do Distrito Federal, os horrores da prisão. Seu mundo caiu... 
Na insalubrilidade do ambiente, caneta Montblanc supostamente usada por Guimarães Rosa, o autor que o inseriu no rico universo da literatura, é mágica.
Por fim, Sena Siqueira mostra a capacidade de superação e cristaliza todos os sentimentos, por mais contraditórios que sejam, na maio preciosa joia do mundo: o amor. Não importam as vicissitudes que a vida apresenta. O amor é o único bálsamo que regenera, revigora e dá sentido à existência humana.

Rosane Garcia, Correio Braziliense 

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